Da Série: grandes livros que ninguém fala sobre no Brasil – O Magus.

Aparentemente, o fenômeno das “bolhas de informação” não é recente, apesar de ser extremamente atual.

Existe um “efeito em cascata” na grande maioria dos campos de conhecimento e a Magia é um deles. Os que são considerados expoentes de uma área pesquisam (e pesquisa de laboratório é tão relevante quanto pesquisa bibliográfica) e apresentam o resultado ao mercado. Um dos problemas disso é que os expoentes da área criam um túnel de realidade para os que consomem a pesquisa dos pesquisadores.

É o princípio do para-raios: a natureza busca o caminho mais fácil e os estudantes tendem a seguir as trilhas já abertas, consolidando-as e alargando-as.

Com isso, 20% dos livros recebem 80% da atenção e se perde muita coisa magnificamente boa nos 60% esquecidos.

Esse é o caso do livro O Magus, de Francis Barret, que até poucos meses atrás eu nunca tinha visto ninguém no Brasil falar.

Todo mundo conhece Agrippa. Todo mundo conhece a Golden Dawn. Agora, entre a magia da idade média e a magia new age, alguém fez a ponte. Acredito que Francis Barret foi esse alguém.

O Magus pretende ser um manual geral de Magia Prática. Algo que, em si, de fato é extremamente presunçoso, porém, a presunçosa extensão se compensa pela humilde profundidade e, embora eu tenha o costume de criticar manuais rasos, tive em O Magus uma grata surpresa.

De forma simples, clara e (normalmente) prática, Barret explica e apresenta fundamentos da prática mágica que diversos autores modernos usam, mas, raramente, citam de onde advém. E pior: autores modernos usam, aparentemente, retalhos de uma filosofia mais profunda, se limitando a repassar aquilo que eles entenderam e deixando oculto o que não compreendem.

Obviamente, afirmar que os autores modernos deixam de lado o que não compreendem e ensinam retalhos de uma filosofia pode parecer uma crítica, mas não é: cada um só consegue ensinar o que ele mesmo sabe (eu incluso). Cabe ao Aluno ir atrás do que está por trás do professor.

Barret faz uma exposição introdutória, porém embasada, das técnicas da magia, passeando pelo uso prático da astrologia, fundamentos e receitas de poções, introdução à alquimia operativa (a que funciona), numerologia e a base da magia cerimonial.

Obviamente, assim como na grande maior parte dos Grimórios (especialmente o Grimorum Verum) uma parte grande das receitas são impraticáveis (ao menos para mim). Falar que o fígado de uma cobra torrado e moído, misturado à bile e tomado uma gota em uma taça de vinho todas as manhãs é um excelente remédio para a epilepsia está completamente fora da minha zona de conforto: Não sou epilético, não tenho acesso a cobras e não sou alcoólatra tomo vinho de manhã.

Porém, foi com grande interesse que eu vi aulas inteiras já estudadas (e um pouco mais) quando ele falou sobre a filosofia natural dos números e com foi com certa diversão que vi a crítica aos astrólogos que “usam a sacralidade do céu para coisas mundanas como achar cachorros desaparecidos”.

Como regra geral (talvez herança da faculdade de Direito) eu considero extremamente positivo “ler o que ninguém lê”. Todo mundo tem um “Complete Golden Dawn” no PC, na estante ou ambos (ler é opcional). Todo mundo sabe dos três Livros de Filosofia Oculta (e tem que saber mesmo). Mas alguns livros se escondem a olhos vistos e não recebem a atenção merecida. O Magus, de Francis Barret, é um deles.

E esse texto é uma tentativa de corrigir essa injustiça.

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