Às Vezes a Lavanda Floresce.

A Lavanda é uma planta nativa da Europa e hoje cultivada em todo o mundo em virtude de seus usos medicinais, cosméticos e culinários. No Brasil e em Portugal trata-se com frequência Lavanda como sinônimo de Alfazema, sendo que, embora sejam plantas da mesma família (Lamiacae) são espécies diferentes de plantas.

As lavandas se desenvolvem melhor em solo calcário bem drenado e bem arejado, se adaptando bem ao redor do mundo todo. Por serem muito cultivadas em jardinagem é muito comum que sejam encontradas em locais muito distantes de seu habitat natural, sendo que raramente sejam consideradas espécie nocivas (apesar de ser exatamente o que ocorreu na Austrália, onde possuem status de ervas daninhas).

A lavanda, com frequência, possui flores azuis ou violetas, muito perfumadas, de onde se extraem óleos essenciais e essências muito usados em cosméticos e na culinária europeia. No Brasil, creio, em virtude do seu uso cosmético, é raramente utilizada na cozinha, exceto na forma de chás.

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Magisticamente, há uma certa disputa a respeito da atribuição planetária da Lavanda, sendo, para mim, um dos exemplos mais claros de como a experimentação é importante.

No Brasil, provavelmente por influência da umbanda/candomblé, a Alfazema é classicamente atribuída a Iemanjá e, por associação, à Lua. A Alfazema, por sua vez, é tratada como Lavanda por influência portuguesa, portanto, acredito, há uma associação famosa por sincretismo religioso da Lavanda à Lua.

Na Europa e no Exterior em geral, por influência dos Grimórios (notoriamente dos Três Livros de Filosofia Oculta do Agrippa), a Lavanda é atribuída a Mercúrio.

Essa diferença nas atribuições causa certa confusão, apesar de ser razoavelmente conciliável.

Primeiramente, por incrível que possa parecer, Lua e Mercúrio trazem semelhanças notáveis em simbologia: ambos são, em essência, psicopompos, extremamente rápidos e possuem relação com a comunicação. Existem referências arqueológicas, inclusive, de que Thoth, atualmente atribuído a Mercúrio, era um deus Lunar.

Pessoalmente, creio que o temperamento da Lavanda se adeque melhor à Lua que a Mercúrio, visto que ela possui, em medicina tradicional, declarado uso para o alívio da insônia e da ansiedade, porém, como de costume, o uso magístico da Lavanda deve acompanhar as orientações egregóricas ou grimóricas.

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São Paulo, 04 de agosto de 2021.

Caro Irmão de Armas, boa noite.

Às vezes a Lavanda Floresce.

Sei que pode parecer deveras estranho começar uma carta assim, com uma frase sem contexto. Espero que você tenha superado minha atecnia de escrever-lhe nos mais variados meios, mas espero que você não supere nunca a falta de contextualização.

Espero que supere minha atecnia, pois conto com você, dentre poucos irmãos, para me perdoar pelos meus pecados, especialmente, me perdoar pela ousadia, pela surpresa, pela tentativa de carregar-lhe pelas paragens por onde viajei.

Não espero que supere a surpresa, pois desejo que você seja capaz de se surpreender, enxergando no corriqueiro o espantoso e as pequenas novidades e mudanças. Toda mudança é maravilhosa, diz o velho poema.

Escrevo-lhe, como de costume, para dar-lhe notícias: às vezes, a Lavanda Floresce. Ou, pelo menos, minha lavanda floresceu.

Sei que parece algo pequeno e tolo, mas não é nem pequeno nem tolo. Depois de anos, quase década, tentando fazer a Lavanda Florescer, ela floresceu.

Gostaria de lhe dizer que aprendi algo novo, porém não aprendi.

As regas continuam as mesmas, o sol continua o mesmo e o vento tal qual. Todos os testes que fiz foram inconclusivos e nem mesmo minha tese de que a Arruda próxima à Lavanda atuaria como antibiótico se mostrou verdadeira: A Lavanda e a Arruda floriram, lado a lado, em violeta e dourado.

As causas para esse sucesso me escapam integralmente, tal qual um sonho cheio de sentido perde a clareza no transcurso do dia. A completa ausência de clareza, o desconhecimento das causas e a descompetência de conclusões, entretanto, não afastam um aprendizado que ouso formular: às vezes, a Lavanda Floresce.

Sei que cometo o pecado da repetição, do qual não me arrependo, posto que nele sou renitente, porém, é o que tenho para lhe dizer: às vezes a Lavanda Floresce, ainda que não saibamos por quê, ainda que não tenhamos clareza das causas.

Quantas vezes mudei o regime de regas? Quantas vezes mudei os vasos de lugar? Quantas vezes afastei as plantas?

Inúmeras.

Quantas vezes obtive sucesso? Até então, nunca.

Porém, quando desistido o controle, o objetivo se apresentou uma surpresa, tal qual as que espero que você nunca deixe de admirar com espantosa alegria ou com alegria espantosa.

Sozinho, o Universo caminhou para a realização de um desejo, sem que para isso eu o apressasse ou comovesse. No seu tempo, alheio à minha vontade.

Quantas outras vezes não vimos a Lavanda florir, no seu tempo, alheia às nossas vontades, clamores, orações, sacrifícios e lágrimas? Lavandas nossas e de amigos próximos? Quantos fracassos não se tornaram sucessos com calma e no seu tempo? Quantas preocupações com a vida nossa e de companheiros não se mostraram – felizmente – infundadas?

Às vezes, as Lavandas florescem, e é essa paz filha da esperança, essa certeza advinda da possibilidade, que eu gostaria de lhe transmitir com essa missiva.

Irmão de Armas, desejo-lhe uma boa noite, pois a manhã se aproxima, e desejo-lhe, aos poucos, no seu tempo, uma de cada vez, que suas Lavandas floresçam.

Abraços,
Tarso.

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