Walking the Tides, por Nigel Pearson.

Walking the Tides foi o primeiro contato que eu tive com Nigel Pearson, e uma grata surpresa.

Inicialmente, o objetivo era começar uma pesquisa para a redação de um livro ou diversos artigos a respeito dos “Sabbats” ou da “Roda do Ano”, e acabou sendo um mergulho em um tipo de bruxaria simples na sua melhor acepção do termo.

Antes de mais nada, tenham em mente que o livro (em inglês e sem tradução) é de uma linguagem deliciosa de se ler. Passa longe de qualquer manual ou apostila. Tranquilamente é algo para se ler acompanhado de conhaque, como lazer independente da pesquisa.

Deixada de lado a qualidade do texto, o livro parte de uma observação simples mas surpreendente para quem (como eu) tomou contato com os estudos da Roda do Ano vindos do resgate das tradições pagãs: existem tradições que se contradizem, conversam e até mesmo se ignoram.

O problema dos resgates (aconteceu o mesmo com a Golden Dawn) é que isso gera uma barreira de pesquisa: Após a GD (e após o renascimento pagão da metade do século passado) existe muita informação auto-referente e consensual, e uma certa “animosidade” para quem vai contra o consenso.

Pearson, por exemplo, ao invés de trazer a tradicional “Roda do Ano” popularizada na metade do século passado, defende a tese de que junto a festivais com datas fixas, havia festivais variáveis, que dependiam da observação do tempo. A festa da colheita, por exemplo, aconteceria após a colheita, e isso depende de fatores climáticos e mesmo das culturas locais. Não faz sentido celebrar a colheita da maçã antes das maçãs serem colhidas.

Da mesma forma, como princípio, sugere-se que o “crafter” (palavra que poderia ser traduzido como “bruxo/bruxa”, mas tem um sentido mais específico) pesquise sobre a região onde mora, não apenas em termos de estações, mas especialmente das práticas associadas à Terra. Nesse aspecto, a relação com os espíritos da Terra (da SUA Terra) é extremamente valorizada.

Por fim, de forma didática e leve o autor passeia por “receitas” de diversas práticas nas estações. De sugestões de comidas e bebidas ao uso de frutas e raízes, dos animais tradicionais às flores mais comuns, dos feriados e festas cristãos à observação do céu e as estrelas mais utilizáveis, Pearson entrega material prático para o leitor.

A mais pura verdade é que a verdade raramente é pura. Isso se mostra novamente preciso: as práticas e costumes se misturam, se conversam e se separam. Mais importante do que indicar uma tradição a ser emulada é olhar para o mundo em que se vive e experimentá-lo, com todos os sentidos, e desvendá-lo.

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2 respostas para Walking the Tides, por Nigel Pearson.

  1. Ruy Henrique, Anmchara diz:

    Valioso compartilhamento, agradecido!

    Quando se procura em web-sites bem estruturados por material de qualidade, gasta-se um tempo desnecessário tirando o lixo mainstream (sem medo de ser extremista) do meio para encontrar algo que valha, e apenas em poucas vezes se encontra qualquer coisa!
    É como entrar na Livraria Cultura para garimpar obras sinceras de tempos passados, ou qualquer coisa que não tenha sido ultra processada tipo carne do McDonald’s.
    Parece que se a gente não sair de casa com o nariz apontado pra onde se quer chegar, as chances de encontrar apenas tendo uma vaga ideia se tornaram nulas, né? Tempos perdidos.
    Mas ainda somos humanos, e a sorte ainda move seus pauzinhos, então lá e cá, sempre acaba dando certo (ou esquerdo, também serve).

    Mas só queria lhe pedir um encarecido favor! Deste que tem dezenas de títulos ruins e já se desfez de dúzias, enganado por si tanto quanto por más editoras…

    Peço que compartilhe autores preciosos, pequenas gemas desconhecidas, nada que pretenda ofuscar mas apenas aquelas coisas que realmente importam… Livros escritos por braços e corações, entende? Um ou dois desses são o bastante para tocar profundamente por muito tempo… Enfim! Agradeço se puder partilhar deste singelo canto da biblioteca.

    Não se chega para além da mente sem ternura, e muitos dos livros atuais (sobre tudo) são maromba para a mente.

    • astrologiapv diz:

      Ruy, boa noite!

      Minha ideia central e manter com certa constância resenhas a respeito dos livros bons que eu li.

      Gosto muito da ideia de “se não tem nada bom a falar, não diga nada”, portanto, os livros ruins que eu eventualmente ler serão relegados à lata de lixo da história.

      Espero que você leia (e goste!) do livro do Pearson. Falo com toda a sinceridade: ele não é apenas BOM, também é POÉTICO.

      Abraços e bem vindo!

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