O Rito do Sol.

Este texto vai expor um pouco do processo criativo para a estruturação de rituais e de como as práticas ocasionalmente surgem de conversas nos grupos de amigos e de debates.

No começo de julho deste ano, conversando com as pessoas que participam do Rito de Júpiter comigo, decidi tirar da gaveta um projeto antigo: o “Rito do Sol”. O Rito do Sol pretende trazer um pouco da energia e temperamento Solar para a vida do praticante.

O Rito de Júpiter (que mal pode ser chamado de Rito) é um projeto que venho mantendo com certa constância desde 2016, com amigos próximos que, uma vez por semana, se juntam para conversar sobre as coisas importantes que aconteceram durante a semana e os objetivos que pretendemos alcançar (sim, o Rito de Júpiter pretende ser uma prática de Crescimento Consciente a respeito da qual escreverei em breve).

Tomada a consciência da necessidade de trazer a energia solar a pergunta se tornou “como compor este ritual?”.

A pergunta central é, sempre, “O que eu Quero?”

Se o objetivo do ritual for pontual e simples, a Magia Simpática costuma ser o melhor caminho. Se o objetivo, porém, for provocar mudança duradoura, um rito de duração mais longa é mais eficaz. É semelhante a uma dieta: a manutenção de um comportamento no transcurso do tempo tende a causar mudanças mais perceptíveis e duradouras.

Normalmente, ritos de duração mais longa usam um período de tempo simbólico: uma semana (sete dias da criação), um mês lunar (o mês solar, basicamente, não existe na magia) ou outro prazo que seja coerente.

Normalmente eu gosto de fazer por um ciclo lunar, de lua nova a lua nova (o que é bem comum), mas, para um rito solar, resolvi testar algo diferente: Começar com a entrada do Sol no signo de Leão e terminar com a saída do Sol no Signo de Leão. Leão é o domicílio do Sol, faz algum sentido manter o rito durante esse período.

O Rito, em si, obedece uma mecânica muito simples e inspirada no Liber Resh thelêmico: quatro adorações ao Sol nos quatro momentos cardinais: Nascente, Meio Dia, Poente e Meia Noite. As adorações foram compostas livremente e de forma curta.

Como a pretensão era fazer um rito devocional, não utilizei nenhuma forma de sacrifício ou oferenda (o sacrifício ou oferenda é o Magista, que, por devoção, doa sua energia e se oferece para ser habitado pelo Sol).

Para criar conexão, a declamação seria feita segurando uma vela branca ou amarela (afinal, por simpatia, o fogo da vela é o fogo do Sol).

Resumidamente, o rito consiste em Abertura do Círculo, acendimento da vela, declamação e apagamento da vela.

Os efeitos esperados eram Vitalidade, Clareza, Disposição, Criatividade e a Dissipação de Ilusões e Mentiras.

Todos os participantes entenderam que o Sol tem a natureza de planeta maléfico, ou seja, ele queima o que é falso. Havia o risco, assumido tão conscientemente quanto possível, disso implicar em perdas que nem imaginávamos quais poderiam ser e em “verdades desagradáveis” virem à tona.

Abri o ritual para o grupo de whatsapp do projeto de astrologia, explicando os riscos e convidando quem quisesse participar a participar.

No final, a adesão foi de aproximadamente dez pessoas.

Durante essa primeira semana, algumas das condições esperadas surgiram: verdades desagradáveis vieram à tona (e acarretaram na não assinatura de um contrato), alguns flashbacks interessantes de alguns membros, rescisão de alguns vínculos da parte de outros e aumento de vitalidade da grande maioria.

O interessante, porém, é que condições inesperadas também surgiram, como o direcionamento do rito por alguns praticantes para questões de saúde de conhecidos próximos, com resultados expressivos (apesar de dificilmente poderem ser comprovados – como toda questão de natureza espiritual).

De forma prática, o que ficou razoavelmente claro é:

i) As práticas mágicas são simples: não há a necessidade de grandes parafernalhas, textos crípticos e longos, listas de material mágico, etc. Uma vela e uma oração resolve muita coisa.

ii) As práticas mágicas estão ao alcance da mão: O Sol nasce pra todos.

iii) O hábito faz diferença: E eu estou falando da prática e repetição, não da roupa do monge. É possível que algumas pessoas consigam resultados num estalar de dedos, mas eu não sou essa pessoa e aprendi a obter resultados com persistência.

iv) É preciso respeitar seus limites, mas não muito: magia é feita para ter resultado prático, se não é só uma fantasia dispendiosa. Os resultados, por vezes, são menos que agradáveis, porém, eficazes. Convidar o Sol para entrar na sua vida tem um quê de audacioso, mas traz aprendizado. Talvez por isso Eliphas Levy traga o verbo “Ousar” como fundamental para a magia.

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