Geometria e Astrologia – Parte 2: As Cruzes.

Texto passado fizemos um breve ensaio sobre geometria magística que será útil para aprofundar alguns conceitos neste e nos próximos textos. Agora vamos avaliar as três cruzes de movimento e as casas angulares.

1) As Qualidades de Movimento.

A Astrologia trabalha primordialmente com a combinação entre quatro elementos e três qualidades de movimento (os planetas podem ser considerados especificidades dos elementos). Essas três qualidades de movimento são chamadas de Cardinal, Mutável e Fixa.

Discutir essa nomenclatura é, ao mesmo tempo, completamente infantil e totalmente necessário.

É completamente infantil porque toda a astrologia, desde onde se tem notícia, utiliza essa denominação. Qualquer astrólogo vai saber que o signo da Terra Fixa é Touro. Pretender inovar isso, nesse momento, é, no mínimo algo muito próximo de uma tentativa de reinventar a roda ou pretender um mérito inexistente.

Porém, a nomenclatura utilizada é, nesse caso, um pouco desnorteadora.

Fixo sugere Parado e, ao se falar que alguns signos são Mutáveis, dá-se a impressão de que outros não são mutáveis, e ambas as concepções são falsas.

Para entender um pouco melhor o que isso significa, é útil entender as expressões com um pouco mais de cuidado.

Os signos Cardinais possuem natureza de ampliação, aumento e conquista. Pode-se falar que para o signo cardinal a meta é sempre mais e melhor. Ele pretende ver seu universo expandindo, tal qual uma espiral crescendo e se ampliando.

Os signos Mutáveis estão profundamente ligados à combinação, recombinação intercâmbio de elementos pré-existentes. A pergunta a ser respondida por esses signos é “Como aquilo que existe pode ser melhorado?“. A lemniscata é um ótimo símbolo geométrico para esta qualidade de movimento.

Os signos Fixos estão profundamente relacionados à estabilização de situações, coisas, fatos e ideias.  Pode-se dizer que há uma busca de segurança e perenidade. Os signos fixos são aversos à perda, preferindo a segurança. A espiral centralizadora/concentradora é um símbolo geométrico pertinente para ilustrá-los.

Em um joguinho mnemônico, pode-se dizer que os signos Cardinais conquistam coisas novas, os signos Mutáveis as reorganizam da forma mais eficiente e os signos Fixos as estabilizam.

Existe ainda uma correspondência direta com os Elementos Alquímicos: Cardinal corresponderia ao Enxofre, Mutável ao Mercúrio e Fixo ao Sal.

2) As Cruzes.

Ao se avaliar a Roda Zodiacal é possível perceber que cada quatro elementos de uma mesma qualidade de movimento formam uma cruz. Isso gera a Cruz Cardinal (Áries, Câncer, Libra e Capricórnio), a Cruz Fixa (Touro, Leão, Escorpião e Aquário) e a Cruz Mutável (Gêmeos, Virgem, Sagitário e Peixes).

3) As Casas Angulares.

As Casas Zodiacais (até mais que os signos) possuem relações de oposição e/ou complementaridade. Tenha em mente que as formas como cada astrólogo interpreta tais relações são bem pessoais e variam muito em virtude da abordagem escolhida, mas as casas angulares (Casas I, IV, VII e X, respectivamente ascendente, fundo do céu, descendente e meio do céu) tendem a ser mais uniformes entre todos os astrólogos.

A Casa I, o Ascendente, representa o Eu (notoriamente o corpo físico). Em oposição à Casa I, a Casa VII representa os outros indivíduos com os quais o Eu se relaciona individualmente. Eu gosto de chamar a Casa VII de “Os Relacionamentos Bilaterias”, destacando-se o Casamento e outros contratos.

A Casa IV representa a casa da família, da infância, o local onde se está, o Pai, e para alguns autores, o subterrâneo e a linhagem ancestral de onde se vem. A Casa X, em oposição à Casa IV, simboliza a mãe, o céu, e carreira. Pessoalmente, gosto de definir a casa X como a casa de como os outros enxergam você.

As Casas Angulares formam uma Cruz (normalmente não ortogonal em virtude das diferenças entre os cálculos de divisão e os horários de nascer e pôr do sol nas diferentes estações do ano) que dá duas das grandes dicotomias humanas: Eu x O Outro e De Onde Vim x Para Onde Vou (nesse último caso podemos ainda falar entre Terra x Céu e Destino x Livre Arbítrio, sob um aspecto muito particular).

4) A Combinação das 3 Cruzes com as Casas Angulares.

O objetivo deste texto é chamar a atenção para o fato de que com frequência suficiente para ser objeto de estudo, as quatro casas angulares coincidem com a Cruz da Qualidade de Movimento.

Alguém com o ascendente em um signo fixo tem o descendente em signo fixo e tende a ter o meio do céu e o fundo do céu também em signos fixos. Mesma coisa para os signos mutáveis e cardinais.

A principal relevância desse fato é que a pessoa avaliada tende a ter uma postura semelhante em todos os meios indicados pelas casas angulares: A pessoa estável tende a vir de um lar estável, se relacionar com pessoas estáveis e ser vista em sua carreira dessa forma.

Isso é uma regra? Não. Isso está extremamente sujeito a elementos “acidentais” (que são até mesmo mais relevantes, como o posicionamento de planetas).

Qual a utilidade disso, então? Principalmente a compreensão do papel dos quatro vértices do quadrado na criação de um mundo estável e composto pelos quatro elementos, algo que pode ser utilizado na análise astrológica, sim, mas possui valor muito maior na estruturação de rituais.