Beltane – 6/11/2020 – 20:13:48

A celebração dos festivais da Roda do Ano é uma questão complexa.

A Wicca conseguiu difundir uma tradição que, francamente, é deveras questionável. Não que não existam referências históricas de (diversos) povos pagãos celebrando (diversos festivais). O problema é que são povos diferentes e os calendários, muitas vezes, não batem.

Descobri recentemente, por intermédio de um amigo que estuda paganismo nórdico com profundidade, que eles tinham um calendário “parecido mas diferente” do calendário judaico. Os meses eram contados pela lua cheia (os judeus contam pela lua nova) e os anos pelo ciclo do Sol. Ocasionalmente, por isso, um mês “de brinde” era criado. O Calendário pagão, portanto, não corresponde ao calendário cristão o suficiente para permitir afirmar que “Samhain ocorre em 31 de outubro”.

Nigel Pearson começa seu livro com a provocação “por que celebrar a festa da colheita em um lugar que não tem colheita?”.

Bom, pessoalmente, eu sou um advogado morando em São Paulo. Se eu fosse celebrar alguma coisa, talvez eu celebrasse o dia da Sentença, de pagar o aluguel, da participação nos lucros ou da entrega do imposto de renda. E isso não faz muito sentido.

Creio que as celebrações da Roda do Ano são menos uma celebração da colheita da maçã do que são uma celebração do resultado do trabalho, por exemplo.

Celebrar um Sabbat é mais algo como separar um dia para provar um sabor puro e conhecê-lo do que qualquer outra coisa. O connoisseur de azeites prova o líquido em colheradas e o apreciador de café não usa açúcar, ambos tentando não mascarar nenhum sabor.

O Sabor de Beltane, tradicionalmente é o Amor.

Fala-se muito no casamento do Deus e da Deusa, na cópula, orgias, etc. Nada contra, inclusive gosto. Porém, existe um problema: quando você atribui ao divino um conceito humano com frequência eles são um cobertor curto.

Os gregos consideravam Eros (o Amor) oposto a Thanatos (a Morte).

Existem mitos diversos: uns consideram Eros e Thanatos potências cosmogônicas oriundas da divisão do Kaos (junto com céu e terra), outros consideram Eros filho de Afrodite.

A oposição entre Amor e Morte, entretanto, permanece. A Morte representaria a desintegração enquanto o Amor representaria a União. Não é difícil imaginar porque: um corpo morto apodrece e se desintegra enquanto o Amor é capaz de gerar Vida, pois da cópula surge um novo corpo.

Quando se avalia Amor e Morte fora do aspecto humano ganha-se amplitude: o Amor mantém os átomos unidos, faz com que tempo e espaço se casem e é a dança entre Eros e Thanatos que cria a realidade.

Falar em Criação do Universo, porém, é tão distante e abstrato que é, praticamente, irrelevante. De nada adianta debater o sexo dos anjos se você não vai transar com nenhum. O Mandamento Crístico é “Amai ao próximo como eu vos amei”, a quem está ao alcance, não “amai a quem você nunca vai se relacionar”.

O Amor, na vida mortal, se traduz em coisas simples e palpáveis. E, dessa vez, para mim, o Amor se traduz em Compromisso.

Compromisso, claramente, está presente em um casamento, namoro ou quaisquer outras relações familiares, mas também está presente no casamento do Agir com a Disciplina, do Fiel com a Divindade.

O Compromisso é o Amor exercitado na prática.

Por isso convido aqueles que se sentirem tocados a, no dia 6.11.2020, 20:13, refletir com o que se comprometem e celebrar essa escolha. Pode ser um compromisso com o amado ou a amada, pode ser o compromisso com a família, com a carreira, com os próprios objetivos.

O Amor, na forma de Compromisso, une aquele que é àquilo que ele ainda não é. E é a união do que somos com o que não somos que nos permite crescer.

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